NEJAP anuncia: atividade “Uma Introdução ao Período Edo” começa semana que vem

02/09/2024 13:13

Depois de um longo tempo sem visitar o Japão Edo, o NEJAP anuncia um ciclo de leituras inteiro dedicado a este importantíssimo período da história japonesa. Ao longo dos encontros, serão debatidos os mais diversos tópicos, da estrutura política até relações de trabalho, de samurais a questões de gênero e sexualidade. A atividade concederá certificado de 50 horas, ocorrendo quinzenalmente às terças-feiras, das 18:30 às 22:00 horas. O formulário de inscrição encontra-se aqui.

Mulheres na História Japonesa: O Towazugatari e a Vida da Lady Nijo no Período Kamakura

19/09/2023 09:44

O Núcleo de Estudos Japoneses (NEJAP), em parceria com o Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná (PPGHIS-UFPR), tem o prazer de apresentar o projeto de extensão Mulheres na História Japonesa: o Towazugatari e a vida de Lady Nijō no período Kamakura. A atividade terá encontros semanais entre os dias 02 de outubro e 06 de novembro, sempre às segundas-feiras, das 17h às 19h, totalmente online pela plataforma Jitsi Meet. Aos participantes que cumprirem os requisitos mínimos de aproveitamento será concedido certificado de 20 horas. Para se inscrever gratuitamente e acessar o plano de estudo completo, clique aqui!

Estudos em Literatura Japonesa II: Uma Introdução ao Cânone

31/08/2023 00:36

Continuando os prolíficos debates do ano passado, o NEJAP volta a reunir-se com o público externo para discutir três obras literárias ao longo deste semestre, através da atividade Estudos em Literatura Japonesa II, que ocorrerá mensalmente, de 13/09 a 08/11. As reuniões serão remotas, sempre às quartas-feiras, das 19 às 21 horas, através da plataforma Jitsi. A atividade é totalmente gratuita e confere um certificado de participação de 30 horas para os que concluírem os requisitos mínimos de aproveitamento. Para inscrever-se e acessar o plano de ensino completo, clique aqui.

Círculo de Leituras: Equilíbrio em Xeque

09/08/2023 09:08

Com grande prazer, o NEJAP anuncia sua primeira atividade de 2023, o círculo de leituras Equilíbrio em Xeque: Securitização no Leste Asiático e a Política Externa Japonesa. Esta atividade volta-se para debates relacionados às questões de política externa – em especial ligadas a questões de segurança – do Japão pós-guerra aos dias de hoje, debatendo seu papel e a evolução de sua postura no Leste Asiático. a atividade ocorrerá mensalmente, às quintas-feiras à noite, das 19 às 22 horas, através da plataforma Jitsi, sendo totalmente remota e gratuita. Participantes que preencherem os requisitos mínimos de aproveitamento serão contemplados com um certificado de 30 horas emitido pelo NEJAP. O formulário de inscrição e o programa completo da atividade encontram-se aqui.

 

Círculo de leituras: Imperialismo Japonês em Debate

19/09/2022 08:01

Com grande prazer, o NEJAP anuncia sua segunda atividade para este semestre, o círculo de leituras Imperialismo Japonês em Debate. Esta atividade introdutória busca debater textos sobre as guerras no Pacífico e o imperialismo japonês, assim como suas ramificações no Japão pós-guerra e suas relações com o continente asiático. A atividade ocorrerá quinzenalmente, às quintas-feiras à noite, de modo totalmente remoto e gratuito, conferindo certificado de 30 horas emitido pelo NEJAP.  O formulário de inscrição, o qual contém o programa completo da atividade, encontra-se aqui.

Estudos em Literatura Japonesa I: Uma Introdução ao Cânone

14/09/2022 17:44

Anunciamos que estão abertas as inscrições para uma nova atividade do NEJAP. Estudos em Literatura Japonesa I: Uma Introdução ao Cânone, tem como objetivo dar um pontapé inicial nos estudos em literatura japonesa pelo NEJAP. Apelidada carinhosamente de “Clube do Livro do NEJAP”, o intuito é justamente este: juntar pessoas interessadas para discutir as obras selecionadas. Esta atividade, junto do feedback recolhido e seus resultados, servirá de base para futuras atividades que visem aventurar-se pela literatura japonesa. O formulário de inscrição encontra-se aqui. Dentro dele, está contido o programa completo da atividade.

 

Para facilitar, disponibilizamos o cronograma abaixo:

● 27/09 – Em Louvor da Sombra (Jun’ichirō Tanizaki) & Japanese Aesthetics (Donald Keene)

● 18/10 – Confissões de uma máscara (Yukio Mishima)

● 15/11 – Declínio de um homem (Osamu Dazai)

● 13/12 – Diários de um Velho Louco (Jun’ichirō Tanizaki)

Observação: os certificados serão emitidos diretamente pelo NEJAP.

VI Colóquio NEJAP de Estudos Japoneses – A Espada e a Pena: Guerra e Cultura Marcial no Japão – Inscrições e Programação

12/01/2022 16:38

INSCRIÇÕES

Impossibilitados de realizar nosso evento anual em 2021, anunciamos com grande prazer que estão abertas as inscrições para o VI Colóquio NEJAP de Estudos Japoneses, evento a ocorrer entre 24/01 e 25/02. Intitulado “A Espada e a Pena: Guerra e Cultura Marcial no Japão”, o presente evento abordará temas que vão da pré-história do Japão até a Guerra Sino-Japonesa, passando pelos samurais, e pelas representações e reinterpretações destes, assim como tocando em temas como crimes de guerra, o horror atômico de Hiroshima e Nagasaki, escatologia budista, e uma série de outros assuntos. Como tradição dos últimos Colóquios, as propostas também trazem forte teor interdisciplinar, dialogando com literatura, cinema, fotografia, e formas tradicionais de arte.
Do mesmo modo que no ano passado, as Comunicações e o Minicurso deste ano serão veiculados via playlist restrita no YouTube, condicionada à realização de inscrição prévia. Desta forma, as Comunicações e o Minicurso serão assíncronos, podendo ser vistos em todo o período que vigorar o evento. Fora isso, teremos duas sessões de Live, uma de Abertura e uma de Encerramento, a primeira com o Professor Thomas Conlan, da Princeton University, e a segunda com o Professor Karl Friday, aposentado pela University of Georgia.
Estes dois ilustres convidados são as maiores autoridades em história dos samurais em línguas ocidentais. Thomas Conlan é autor das obras In Little Need of Divine Intervention: Takezaki Suenaga’s Scrolls of the Mongol Invasions of Japan, State of War: The Violent Order of Fourteenth-Century Japan e From Sovereign to Symbol: An Age of Ritual Determinism in Fourteenth Century Japan. Karl Friday é autor das obras Hired Swords: The Rise of Private Warrior Power in Early Japan, The First Samurai: The Life and Legend of the Warrior Rebel, Taira Masakado, e Samurai, Warfare and the State in Early Medieval Japan. Mais detalhes sobre as Lives encontram-se abaixo.
O evento será totalmente gratuito, conferindo certificado de 20 horas para os que cumprirem os requisitos mínimos (75% de presença/participação nas atividades), e as inscrições podem ser feitas entre os dias 12/01 a 31/01 clicando aqui.

PROGRAMAÇÃO


Abaixo, apresentamos a programação completa. Postaremos os resumos com bibliografia nos próximos dias em formato PDF.

Abertura e encerramento (ao vivo):

  • Live de Abertura: Studying Samurai on the Web: Disseminating Digital Sources for Medieval Japan [em inglês] – 24/01, 19:00 – 21:00h
    THOMAS CONLAN
    Professor of East Asian Studies and History – Princeton University

Thomas Conlan will introduce a number of websites which reproduce visual and written sources of medieval Japan, and will explain the process of their creation and how they can be used to better understand the samurai of Japan. His analysis will start with the scrolls of the Mongol Invasions of Japan, and continue to through accounts of guns and gunpowder in sixteenth-century Japan.

  • Live de Encerramento: Bushidō” & What Bushi Did [em inglês] – 25/02, 18:00 – 20:00h
    KARL FRIDAY
    Professor Emeritus – University of Saitama, Professor Emeritus – University of Georgia

The samurai is an entertaining, romantic figure and for many in and out of Japan, a fundamental representative, a symbol, of Japanese national character. And yet the majority of what samurai aficionados—and a great many scholars as well—believe about samurai culture derives from a consciously-fashioned mythology that bear scant resemblance to historical reality. Indeed, to describe samurai culture in historical reality, we must first ask “which samurai historical reality?”
For while modern commentators have too often attempted to treat “bushidō” (literally, “the way of the warrior”) as an enduring code of behavior readily encapsulated in simplistic notions of honor, duty, and loyalty, the historical reality is far from simple. Warrior values and behavior varied significantly from era to era—most especially across the transition from the medieval to the early modern age—and in most cases bore scant resemblance to twentieth-century fantasies about samurai comportment. This lecture will examine the evolution of the warrior ethos in Japan, with special attention to the key constructs of honor and loyalty.

Nota sobre as Lives: as Lives de Abertura e Encerramento serão em inglês, sem tradução, mas serão posteriormente legendadas para português. Caso necessário, perguntas poderão ser enviadas em português, e os organizadores as traduzirão para o inglês durante a transmissão, mas não podemos garantir a tradução das respostas, pois elas podem acabar se estendendo. Neste caso, aguardem até a legenda dos vídeos sair.
Para assinar o formulário de presença das lives, é necessário comparecer durante a transmissão e preencher a chamada quando o link for disponibilizado.

Comunicações:

  • O Humano e o Divino: Representações Fotográficas do Imperador Shōwa de Setembro e Dezembro de 1945
    Lucas Gibson
    Mestre em Artes Visuais – UFRJ

Em setembro de 1945, no mês seguinte após a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial, o imperador Shōwa foi fotografado ao lado do general Douglas MacArthur pelo fotógrafo Gaetano Faillace, gerando uma das imagens mais icônicas e polêmicas do contexto imediato do pós-guerra. Na imagem, vê-se o imperador como um humano de baixa estatura, que teve sua divindade negada ao fim da guerra, com trajes formais e postura rígida, contrastando com um general de postura relaxada, posicionado à direita de Hirohito, muito mais alto e com trajes menos formais. A imagem, veiculada massivamente em jornais pouco tempo depois de ser criada, trazia uma simbologia poderosa em seu discurso, sugerindo fortemente como seriam traçadas as relações entre Japão e Estados Unidos nos anos subsequentes. Em dezembro de 1945, os fotógrafos Shōgyoku Yamahata e seu filho Yōsuke Yamahata fotografaram o Imperador Shōwa e sua família a partir de uma solicitação da revista Life. As imagens, publicadas em 4 de fevereiro de 1946 sob o título de Sunday at Hirohito’s (em tradução livre, “Domingo na Casa de Hirohito”), mostram um “lado humano” do imperador, apresentando-o como um pai de família, um biólogo e um homem simples, capaz de nutrir amor por sua família e por seu povo. A sessão de fotos gerou o fotolivro Tenno (Imperador), publicado em 1946. Este conjunto de imagens partiu de uma iniciativa do governo estadunidense de consolidar o discurso de negação de divindade do imperador, que se viu forçado a fazer isto no cenário imediato do pós-guerra. O objetivo inicial deste trabalho é tecer comparações entre a icônica imagem de Hirohito com Douglas MacArthur de setembro de 1945 e a sessão de fotos realizada do imperador com sua família três meses depois. A partir disto, busca-se demonstrar como as mudanças na forma de registro do imperador Shōwa contribuíram para a formação de imaginários distintos em um intervalo curto de tempo do pós-guerra, apontando como a subjetividade do discurso fotográfico pode permitir uma apreensão particular da realidade à luz do contexto que se apresenta.

  • Guerra, raça e responsabilidade: Análises iniciais de Shingeki no Kyojin
    Lucas Marques Vilhena Motta
    Doutorando em História – UFPel

A Guerra do Pacífico (1931-1945) é um marco na História japonesa e que, até a atualidade, influencia na política interna e externa do país. Recentemente, pode-se observar um avanço de uma interpretação conservadora/nacionalista do conflito, a qual silencia os diversos crimes cometidos pelo Japão e, por conseguinte, exime a nação de culpabilidade. Entretanto, esse discurso gera atritos com países vizinhos ao Japão, visto que eles foram vítimas das atrocidades perpetradas pelo império nipônico. Hashimoto (2015) observa que a memória/imaginário da Guerra do Pacífico “enraizou-se” na sociedade japonesa e influencia tanto sua identidade quanto suas produções (midiáticas). A partir destas proposições, analisaremos o mangá Shingeki no Kyojin (Attack on Titan, no Ocidente) de Hajime Isayama, o qual alcançou projeção e popularidade global, no intuito de compreender como a narrativa da obra (re)imagina a Guerra do Pacífico e de que forma ela se posiciona quanto a esta memória. Esta proposta é embasada pelas discussões apresentadas por Morris-Suzuki (2005), a qual propõe que obras midiáticas são relevantes formas de consumo de “visões históricas” e que, podem auxiliar na construção de imaginações históricas, de seus consumidores. Além de Morris-Suzuki, o livro The Representation of Japanese Politics in Manga (2021), organizado por Rosenbaum, aponta o mangá como um meio de grande circulação de discursos políticos, tornando sua análise imprescindível na compreensão das disputas de memória dentro da sociedade japonesa.

  • Sayonara Ásia?:  As guerras Sino- Japonesa (1894-95) e  Russo-Japonesa (1904-05) em imagens
    Rogério Akiti Dezem
    Professor do Depto. Estudos Luso-Brasileiros – Universidade de Osaka

Nesta comunicação gostaria de analisar algumas imagens da iconografia produzida no Japão representando dois conflitos importantes da História contemporânea: as guerras Sino-Japonesa (1894-95) e Russo-japonesa (1904-1905). Esses choques entre o Japão que se modernizava e as nações próximas fazem parte do que denomino “ciclo das três guerras” (Guerra Sino-Japonesa 1894-95; Guerra Russo-Japonesa 1904-05 e Guerra dos 15 anos 1931-1945). Conflitos que estão inseridos historicamente em um momento de consolidação de uma identidade japonesa associada ao nacionalismo (jap. kokutai). E que a partir das vitórias do país do sol nascente, acabaram por criar condições (imagéticas e ideológicas) para reforçar um sentimento militarista e pavimentar o caminho para consolidação dos militares no poder duas décadas depois.
Os anos de 1895-1905 são o momento de ajuste de foco da maneira como o governo japonês passou a usar os instrumentos da modernidade (tecnologia industrial e militar) de matriz europeia como práxis para se afirmar perante ao “outro” asiático (China) e europeu (Rússia), subvertendo a hierarquia geopolítica no Extremo Oriente e abrindo caminho para uma política de anexações na Ásia sobre o pretexto de “proteger” os asiáticos do imperialismo europeu.
A guerra Sino-Japonesa, nas palavras do intelectual japonês Yukichi Fukuzawa (1834-1901) na época, seria “uma guerra entre a civilização (Japão) e a barbárie (China)” ou nas palavras de um diplomata alemão “uma guerra entre amarelos no fim do mundo” , diferentes perspectivas sobre um mesmo acontecimento que deu início efetivo ao turning-point japonês aos olhos do mundo no alvorecer do século 20.
O conflito entre o “gigante russo” e o “diminuto Japão”, apesar da sua grande importância histórica – considerado como o primeiro conflito moderno – até recentemente (2000) havia sido pouco estudado sob perspectivas que não fossem militares em pesquisas acadêmicas em língua não-japonesa. Esse “desinteresse” também pode ser explicado de forma simplista a partir da afirmação de que as guerras posteriores acabaram por eclipsar o conflito entre o “sol e o orvalho”(jap. nichiro sensō) segundo o historiador israelense Rotem Kowner.
Meu objetivo nesta comunicação é fazer uma breve introdução dos dois conflitos e examiná-los sob a perspectiva do ideal de “deixar a Ásia para trás” (jap. datsu a ron) título de um editorial anônimo (provavelmente escrito por Yukichi Fukuzawa) publicado no jornal Jiji Shimpō em 16 de março 1885. Na época em que foi publicado, o editorial passou desapercebido ao debate público, vindo a se tornar uma referência nos debates historiográficos no período posterior a derrota japonesa na Guerra dos 15 anos (1931-1945).
A partir desse contexto pretendo discutir como as populares xilogravuras/litogravuras (jap. nishiki e) e o nascente fotojornalismo construíram um imaginário heroico, eufórico e militarista cativando principalmente as crianças e os jovens ao apresentar um “novo Japão” em ascensão e desviando o olhar do público para os problemas sociais advindos do alto custo dessas aventuras no exterior. Serão analisadas algumas imagens produzidas por renomados artistas do período como Kobayashi Kiyoshika (1847-1915) e Utagawa Kokunimasa (1874-1944).

  • Guerreiros da Última Era: de arautos do fim à protetores do trono
    Nikita Chrysan da Silva Pires
    Mestranda em História Social – UFF

Esta comunicação é fruto de um recorte da minha atual pesquisa de mestrado que busca analisar o Gukanshō, crônica do século XIII escrita pelo monge Jien visando convencer o insei Go-Toba a não atacar o bakufu de Kamakura após o assassinato do shōgun Minamoto no Sanetomo, e da adoção de Kujō Yoritsune como seu sucessor. Para tal Jien se utilizará da narrativa histórica como estratégia, criando um trabalho interpretativo dos eventos do processo histórico japonês, desde o lendário tennō Jimmu até o tumultuado contexto político de 1219, ano em que escreve sua crônica.
O Gukanshō se diferencia de outras crônicas históricas do período por ter ampla base religiosa, na qual seu autor desenvolve uma curiosa chave interpretativa que contava os eventos históricos de acordo com desígnios divinos chamados de Princípios, onde Amaterasu, entidade protetora do Japão e do clã imperial, juntamente de Buda, acordariam sobre as melhores formas de manter o trono e o Estado durante suas últimas eras de acordo com a doutrina do mappō.
Acredita-se que Jien, ciente das disputas políticas de seu tempo e das oportunidades que a nomeação de Yoritsune como shōgun traria ao clã Kujō, do qual ele mesmo era parte, tenha escrito o Gukanshō como forma de legitimar poderes tanto tradicionais quanto ascendentes, colocando-os como manifestações dos Princípios divinos resultantes de acordos entre Kami e Buda. Neste sentido, a classe guerreira que tanto ameaçaria a aristocracia de Heian, seria na verdade legitimada como protetora dos interesses do trono e do Estado, se unindo à corte na pessoa do jovem shōgun Yoritsune. O objetivo é, portanto, identificar na fonte eventos e argumentos do qual o monge se utiliza para convencer o leitor de suas ideias.
Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizada a tradução do Gukanshō de Brown e Ishida (1979), além da análise de ambos sobre a estrutura do pensamento de Jien (ISHIDA, 1979) e da relação da história de sua família com os motivos que o levam a escrever a crônica (BROWN, 1979). Já para compreensão do contexto histórico serão utilizados dois capítulos da coleção The Cambridge History of Japan, escritos por William McCullough e Rizo Takeuchi sobre a corte de Heian e a ascensão guerreira, além do texto de Karl Friday (2010) sobre a evolução dos guerreiros junto à corte imperial. Por fim, considerando-se que a visão de Jien sobre o papel guerreiro se relaciona também com as três Regalia japonesas, conta-se com a análise de Bernard Faure (2004) sobre o papel de relíquias budistas no governo do Japão.

  • A Criação do Conceito Moderno de Bushidō a partir de Inazō Nitobe
    Alexandre Toman
    Professor de Matemática – CEFET/RJ, Graduando em História – UNIRIO
    Liana Vasconcellos
    Graduanda em História – Universidade Estácio de Sá

O objetivo do trabalho é apresentar o livro denominado Bushido, The Soul of Japan (1899) – famosa obra de Inazō Nitobe – com um viés menos usual, ou seja, o de uma tradição inventada. Existiram outros termos que se referiam à palavra bushidō anteriores ao que Nitobe prescreve. Contudo, o compilado que o autor escreve e sistematiza, contém o que pode ser denominado de Tradições Inventadas (HOBSBAWN; RANGER, 2008), já que Nitobe incorpora elementos próprios da religião cristã – especialmente o da vertente protestante dos Quakeres, da qual tomou termos como “fidelidade” e referências morais sobre o que é ser uma pessoa boa ou uma pessoa má (NUNES(1), 2010). Nitobe estudou nos Estados Unidos e absorveu muitos conceitos ocidentais para a utilização em sua obra, e o uso de uma vertente de religião cristã era algo minimamente esperado de acontecer. Além dessa influência religiosa, Nitobe também recebeu influência de obras como as de Carlyle e de Burke, onde o primeiro gerou resultados relativos à conceitos sobre nação, em especial sobre recursos relativos à extensão da materialidade – espiritualidade de uma nação (NUNES, 2010(1)). Já Burke influenciou Nitobe com uma visão que beira a ingenuidade de ”exaltação a uma determinada classe, que no caso da Inglaterra são os cavaleiros aristocráticos e no Japão os samurais” (NUNES, 2010(1)). Tal obra, como uma tradição inventada, foi usada para propósitos bem definidos, tal como mostrar às potências exteriores da época o fato de que o Japão se encaixava em um conceito de Estado Moderno nos moldes de tais potências econômicas, e, assim, não deveria ser submetido à neocolonização. Com o bushidō e com uma linguagem que fosse familiar aos ocidentais – para que os mesmos não caíssem no erro do orientalismo, considerando os japoneses menos civilizados e, por consequência, impusessem seus interesses no país segundo seus parâmetros de quem deveria e quem não deveria sofrer intervenções – o livro serviu como um “Instrumento de divulgação da cultura japonesa no Ocidente” (NUNES, 2010(2)). Então, com a Revolução Meiji, o Estado Japonês aboliu a descentralização de terras e passou a considerar que todo cidadão japonês tinha espírito de samurai e que todos, portanto, deveriam servir ao Império, e não aos daimyō, tal como os samurais propriamente ditos o faziam, em um sistema similar ao feudal europeu (PATTERSON, 2010).
Tal tradição inventada por Nitobe poupou o Japão de diversos problemas com as nações ocidentais, além de ter criado características de como o Estado Moderno japonês deveria ser apresentado e ser pensado por seus cidadãos – todos eram “herdeiros da ética dos samurais” (NUNES, 2012). Apesar disso, o bushidō acabou sendo utilizado para fomentar um nacionalismo exacerbado em seus cidadãos e, segundo PATTERSON (2010), as artes marciais modernas tiveram uma parcela de responsabilidade nesse processo – embora seus “pais modernos”, tal como Jigorō Kanō e Gichin Funakoshi não tivessem esse propósito extremamente belicoso e que culminou em extermínios durante a Segunda Guerra, ao expandirem e ao ensinarem suas artes.

  • Ōyoroi: o papel das armas nas artes da paz
    Keiko Nishie
    Mestre em Língua, Literatura e Cultura Japonesa – USP

Esta comunicação corresponde a um recorte de nossa pesquisa de mestrado sobre a arte kōgei 工芸 no contexto da reabertura do Japão para as relações internacionais na segunda metade do século XIX. Um dos primeiros artefatos que nos chamaram à atenção foi uma bela armadura em estilo ōyoroi 大鎧, pertencente ao acervo do Victoria & Albert Museum na Inglaterra. O objeto foi doado à instituição pela própria rainha Victoria, que por sua vez o recebera como um presente diplomático do shōgun Tokugawa Iemochi após a assinatura do Tratado de Edo (1859). Este documento trazia cláusulas muito desfavoráveis ao Japão, e as negociações ocorreram em meio a uma atmosfera de hostilidades. Dessa forma, o gesto de ofertar à monarca inglesa uma indumentária de guerra nos parecia conter uma mensagem ambígua: a afirmação de uma alta cultura no Japão, atestada pela sofisticação técnica do conjunto, e a existência de uma tradição bélica, que tornava o presente estranhamente ameaçador.
De fato, a animosidade do xogum era justificada, pois o fracasso em resistir às exigências dos estrangeiros culminaria na desmoralização final do xogunato nos anos seguintes. Entretanto, a ficha catalográfica da obra nos dava pistas de que os trajes de batalha tinham significados mais profundos na cultura da Era Edo (1603-1868), um período de relativa paz. O exemplar havia sido montado exclusivamente para a ocasião e, assim como outras armaduras da época, tinha uma função meramente cerimonial. Além disso, o estilo ōyoroi era uma referência ao período Kamakura (1185-1333), considerado o auge da cultura guerreira, mas as versões recentes apresentavam adaptações que as tornavam mais leves e pouco efetivas como proteção. Essas informações nos levaram a tentar compreender a permanência dos artefatos de guerra durante os tempos de paz.
A ascensão do clã Tokugawa ao xogunato em 1603 foi a conclusão de um processo de pacificação do país que estivera em conflitos generalizados desde o século XV. O título correspondia a um poder paralelo ao da Casa Imperial, baseado na hegemonia bélica e não em uma origem divina. Por esse motivo, durante a Era Edo, a classe guerreira desenvolveu um desejo por outro tipo de legitimidade, não mais ligado à força, mas à civilidade e à cultura. A capacidade de defender os territórios e o Japão em geral foi dando lugar às habilidades administrativas e diplomáticas, mas sem perder de vista a origem militar. Muitos artefatos representativos dos costumes e atividades dos samurais, tais como as espadas e as armaduras, deixaram de ter uma função na guerra, e passaram a ser objetos portadores de valores estéticos. Os conflitos armados foram substituídos pela competição social através da ostentação desses refinamentos e das trocas de presentes entre os daimios ou “senhores feudais”. Assim, a coleção e a apreciação das armas tornou-se uma atividade cultural, paradoxalmente possibilitada pela consolidação da paz.

  • Takashi Morita conta Hiroshima: notas sobre o testemunho hibakusha no Brasil
    Mateus Martins do Nascimento
    Mestre em História Social – UFF, pesquisador do CEA-UFF

Em se tratando de memórias de guerra e sua função sócio-histórica, a historiografia especializada em literatura de testemunho compilou um conjunto significativo de conclusões, tendo como base “turning authors” da história ocidental recente. Por exemplo, poderíamos citar Primo Levi, ecoado pelo filósofo Giorgio Agamben nos textos que compõem a coleção Homo Sacer (2008), ou os recentes avanços da história do tempo presente, balizados por Henry Rousso e outros teóricos preocupados com o papel da memória nas políticas públicas de reparação. Só neste breve levantamento, surpreende-nos a ausência de “vozes” asiáticas que deem conta das igualmente tensas conjunturas desse continente no contexto do mesmo século XX. Onde estão aqueles que falam desde a Ásia sobre os principais eventos ocorridos/sofridos ali? Quais seriam as suas contribuições para o debate sobre testemunho, reparação e legado? Há chances de repensarmos a história da Ásia a partir de suas trajetórias? Tendo essas questões em mente, nossa comunicação abordará o interessante caso dos hibakushas no Brasil, sobretudo, os sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki que vivem em São Paulo. Passaremos em revista pela trajetória do projeto Sobreviventes pela Paz, liderado pelo Sr. Takashi Morita, cuja história orientou a formação do espetáculo itinerante chamado Sobreviventes de Hiroshima. O Sr Morita (96 anos) parece estar no auge de sua missão, pois fala sobre os horrores vividos no bombardeio de Hiroshima em 6 de agosto de 1945, como se ainda estivesse lá. O mais correto seria dizer: ele quer nos fazer estar naqueles instantes que precedem a explosão e nos amparar no passeio pelo que seria a região japonesa, soterrada entre escombros. No limite, ele nos torna observadores participantes de sua narração. Desta forma, seu depoimento serve-nos como base para a crítica mais ampla das imagens canônicas que nos apresentam o Japão (Kuniyoshi, 1991) e a história da segunda grande guerra naquele país (Igarashi, 2011). Ao mesmo tempo, parece-nos possível pensar “o sobrevivente Takashi Morita” portando uma performance, foco de nossa análise, na reconstituição dos usos nipo-brasileiro desse trauma de guerra — ou, do após guerra.

  • Os Samurais Imaginados: A Imagem Canônica do Samurai através da Mídia
    Douglas Magalhães Almeida
    Especialista em História Militar – Unirio, coordenador e pesquisador do GEHJA-CEIA/UFF

Uma das principais indagações que nos surge ao ver um filme histórico de samurais Chambara é o que dali podemos concluir como “real” ou “imaginado”. É nesse contexto que essa investigação busca questionar os elementos constituintes da imagem do guerreiro japonês nos dias atuais, compreendendo os múltiplos canais político-culturais-sociais pelos quais fora reinventada sua tradição no imaginário popular.
É perceptível que encontramos obras famosas em que o termo samurai e rōnin se misturam, seja em animes, mangás ou mesmo filmes de época. E cabe compreender até que ponto a divulgação midiática, que preza primeiramente pelo entretenimento, foi capaz de formar o pensamento ou mesmo os estudos acerca desse assunto. Na compreensão da fala de Stephen Turnbull (2018), de que o conceito do samurai e ninja indicam que suas tradições foram sujeitas a um exagero considerável e comercialização através dos anos, capazes de se tornarem mitologias contemporâneas, entra em sintonia com os estudos de Oleg Benesch (2014) sobre como o nacionalismo, internacionalismo e a modernidade compuseram uma nova invenção do bushidō que definiria quem são esses combatentes.
Por meio desses estudos, e analisando fontes primárias como o Mōkō Shūrai Ekotoba, os rolos ilustrados emakimono sobre as invasões mongóis ao Japão do século XIII, ou o Taiheiki, a Crônica da Grande Paz referente aos eventos bélicos do século XIV, encontramos uma difusão entre o samurai histórico que viveu no passado do arquipélago nipônico e o samurai midiático, que vive na memória de seu povo e no imaginário mundial a partir de mitos aprofundados por uma característica de modernidade enquanto apresentados por mídias diversas que colaboram na reinvenção dessa mitologia que cerca os guerreiros feudais japoneses.
O presente trabalho tem como finalidade promover, portanto, o debate acerca de que elementos se estabelece as características dos samurais como os conhecemos pelo imaginário do século XXI, os referenciando canonicamente como figuras de virtudes exemplares e ligados às características tradicionais reinventadas conforme os discursos ligados à concepção das identidades japonesas modernas.

  • Eros e Morte: a linguagem do corpo no curta “Yūkoku” de Yukio Mishima
    Helena Ariano
    Mestranda em História da Arte – Unifesp (Campus Guarulhos)

O trabalho que proponho apresentar consiste na minha pesquisa de mestrado em andamento, cujo título é Eros e Morte – a linguagem do corpo no curta Yūkoku de Yukio Mishima. Nessa pesquisa, realizo uma análise do curta Yūkoku – Ritos de Amor e Morte, de 1965, roteirizado, produzido, dirigido e atuado pelo importante e polêmico escritor Yukio Mishima. O objetivo geral de minha análise é compreender de que formas o corpo, em todas as suas complexidades, se manifesta em Mishima, considerando suas profundas relações com o erotismo, a violência, a morte e o patriotismo. É importante saber que há três bases principais que caracterizam o pensamento de Mishima: a devoção à instituição imperial, o erotismo e a morte, havendo, para ele, uma indissociabilidade entre esses elementos. Com forte direcionamento político ultra-nacionalista, o corpo em Mishima assume ares patrióticos, além de se relacionar fortemente com a sexualidade e com a violência, e tais características são percebidas tanto em sua vida pessoal quanto em sua obra. O motivo que me levou a escolher o curta como objeto de estudo e análise é o fato de que nele encontram-se todos os elementos supracitados tão caros a Mishima, sendo, assim, uma importante síntese de seu pensamento estético e político, como também um ensaio para seu próprio seppuku, o suicídio samurai, que viria a ser cometido em 1970, aos seus 45 anos. O curta, baseado no conto Patriotismo, de 1960, é baseado no Incidente de 26 de Fevereiro de 1936 (em que houve uma tentativa de golpe de Estado por membros do Exército japonês), e possui como enredo o duplo suicídio amoroso e político do tenente Shinji Takeyama (interpretado pelo próprio Mishima) e sua esposa Reiko (interpretada por Yoshiko Tsuruoka). O curta conta com a estética do teatro , trilha sonora de Richard Wagner e, por ser mudo, forte uso do gestual e do corpo para a narração da tragédia do casal. Os momentos que antecedem o suicídio de ambos são marcados por fortes erotismo e devoção nacionalista que intensificam o êxtase da experiência de morte, dialogando, portanto, de maneira profunda com os valores pessoais e políticos do próprio Mishima.

Minicurso:

  • Guerra e paz na pré-história japonesa
    Larissa Bianca Nogueira Redditt
    Mestre em arqueologia – Museu Nacional-UFRJ, Mestranda em Japanese Humanities – IMAP-Kyushu University, coordenadora e pesquisadora do GHAJ/LHER-UFRJ

Os diferentes períodos da pré-história japonesa foram interpretados de maneiras muito diferentes nos dois últimos séculos. Recentemente, discursos que visam projetar no período Jōmon um ideal de sustentabilidade entre a sociedade humana e a natureza tem representado a população Jōmon como pacífica e harmoniosa. Esse discurso se volta para evidências arqueológicas como a aparente escassez de vestígios humanos com traços de morte violenta para este período. Em contraste, a presença de armas em larga escala e mudanças nos padrões de assentamento são utilizados para argumentar que o período Yayoi representaria o advento da violência no arquipélago, que se tornaria generalizada no período Kofun. Entretanto, se considerarmos mais atentamente as características de cada um destes períodos, veremos que estes discursos não se sustentam, além de serem extremamente problemáticos. Este minicurso pretende analisar o aspecto “marcial” da cultura material da pré-história japonesa e algumas das abordagens que foram feitas sobre ela pela arqueologia e historiografia modernas, bem como o mais recente paradigma ecológico.

“VI Colóquio NEJAP de Estudos Japoneses – A Espada e a Pena: Guerra e Cultura Marcial no Japão” abre período de submissão de propostas

02/11/2021 18:18


O ideal bunbu icchi (文武一致) e suas diversas variantes possuem longa história no Japão. Por vezes traduzidos livremente como “harmonia entre a espada e a pena”, falam da necessidade de cultivar simultaneamente as artes civis e militares, e não tratam-se de valores ultrapassados, mas ainda correntes nos mais diversos ambientes e âmbitos, inclusive no meio esportivo. O NEJAP por longo tempo destinou-se ao estudo da história medieval japonesa – períodos Kamakura e Muromachi – e o papel dos samurais nesta história. Neste ano, propomos uma avaliação da guerra e cultura marcial no Japão de modo mais amplo, avaliando os impactos e apropriações de discursos, como ocorre com o bushidō nos mais variados contextos (na propaganda nacionalista do período imperial, nos ambientes de ensino e prática de artes marciais de origem japonesa, e mesmo no meio empresarial), as representações da guerra, sua cultura, e seus participantes (guerreiros e soldados) nas mais variadas mídias, os discursos de legitimação de guerra e confronto em todos os períodos da história japonesa, a análise crítica da escrita sobre a arte da guerra e do combate, as questões de guerra e memória tanto da perspectiva japonesa quanto da do outro lado (seja invasor ou invadido, ofensor ou atacado), os debates políticos acerca do rearmamento do Japão e suas implicações diversas na geopolítica ásio-pacífica e mundial, e, é claro, o estudo de guerras e conflitos singulares ao longo da história japonesa.

Da mesma forma que no ano passado, este colóquio será veiculado por meio do canal do NEJAP no YouTube. Aceitaremos propostas enviadas entre os dias 02/11/2021 e 15/12/2021, e todos os proponentes receberão uma resposta até 08/12/2021. Uma vez aceitas as propostas, será de responsabilidade dos proponentes gravar um vídeo de duração condizente com a modalidade de apresentação escolhida (vide abaixo) e entregá-lo até 05/01/2022 para revisão do NEJAP. O Colóquio terá sua live de abertura em 17/01/2022, e encerramento em 11/02/2022. As inscrições para ouvintes ainda não estão abertas.

REGRAS PARA O ENVIO DE PROPOSTAS

Ao enviar sua proposta, o proponente aceita ter seu vídeo postado no canal do NEJAP, e aceita os termos aqui dispostos. As propostas deverão ser enviadas para nejap@nejap.ufsc.br dentro da data estipulada com o título do e-mail “Proposta para o VI Colóquio NEJAP (Minicurso/Comunicação)”. O proponente, portanto, deverá optar entre duas modalidades de apresentação – comunicações, com vídeos de 20-40 minutos de duração (em um só segmento de vídeo) ou minicursos (vídeos ou playlists de 2-6 horas de duração). As propostas deverão conter nome dos proponentes, vínculo institucional e situação acadêmica, um resumo de até 500 palavras, 3 a 5 palavras-chave, e pelo menos três referências bibliográficas segundo as normas da ABNT. Estas informações deverão estar no corpo do e-mail, não aceitaremos propostas em anexos. As propostas podem ser de trabalhos completos ou investigações em curso, desde que dentro da temática abordada.

Aceitamos submissões de graduandos e graduados.

SUBTEMAS CONTEMPLADOS

A lista disposta abaixo serve como guia geral, não impedindo de aceitarmos outras propostas ligadas ao grande tema do evento, mas que transitem entre vários subtemas ou não encaixem-se em nenhum deles.

  • Guerras e conflitos armados na história do Japão
  • Cultura marcial, discursos, e apropriações
  • Narrativas de legitimidade para o uso da violência
  • Representações da guerra, guerreiros, soldados, e civis
  • Memórias de guerra
  • Escritos sobre a arte da guerra e dos guerreiros
  • Intersecções entre guerra, religião, economia, e política
  • Ficção de guerra (literatura, cinema, anime, mangás, jogos e outras mídias)

Muromachi Tardio e Sengoku: Roda de Leituras sobre o Japão nos Séculos XV e XVI

23/03/2021 17:57

Dia 04/01 inicia-se oficialmente a próxima atividade do NEJAP, a ser conduzida o ano todo por via remota, uma roda de leituras sobre o Japão nos séculos XV e XVI, dando continuidade à nossa última roda de leituras, ocorrida antes da pandemia. Estas atividades tendiam a ser presenciais, o que implicava a exclusão de membros de outras regiões do país. Desta vez, no entanto, estaremos aceitando inscritos de outras regiões, embora por tratar-se de um grupo para leitura e debate de textos, limitaremos a dez vagas, para além dos membros do NEJAP. O período de inscrição encerra-se nessa sexta-feira, 26/03.

A atividade fornecerá certificado de 38 horas, e para acessar o formulário de inscrição, basta clicar aqui. Recomendamos, no entanto, que antes disso confiram o calendário completo, incluindo datas e carga de leitura, aqui.

Quanto ao certificado do V Colóquio, o mesmo está sendo preparado, e quando todos os trâmites encerrarem-se, os contemplados e contempladas receberão instruções por e-mail.

 

V Colóquio NEJAP de Estudos Japoneses – O Japão em Ruptura: Crises e Respostas na História Japonesa – Cronograma das apresentações

02/12/2020 17:35

 

APRESENTAÇÃO

 

Com grande satisfação, o NEJAP parte para seu V Colóquio, numa tradição que remonta o ano de 2016. Nestes tempos de pandemia, duros para todos, aprendemos muito. Como não poderia ser diferente, o V Colóquio irá realizar-se de modo completamente remoto, numa mistura de atividades síncronas e assíncronas. O maior destes aprendizados foi, sem dúvidas, as potencialidades do meio digital em criar redes de solidariedade acadêmica e ampla divulgação científica.

O evento inicia-se formalmente com uma Live inaugural dia 06/12. Dia 17/12 teremos uma Live de encerramento com a presença do ilustre professor Alexandre Uehara, que tratará de questões atuais, como o Japão diante da pandemia de COVID-19 e as perspectivas pós-pandemia. Estas duas Lives constituem o núcleo de atividades síncronas, que conferirão, cada qual, certificado próprio de duas horas aos que participarem durante a transmissão.

As demais atividades poderão ser vistas a qualquer tempo entre sua publicação (06/12-07/12), até a data final do evento (20/12). A soma das atividades assíncronas, compostas por 7 Comunicações orais e 2 Minicursos, concederá um certificado de 20 horas aos que completarem a carga-horária mínima de 75% de presença. Para obter tal certificado, é necessário assistir os vídeos e marcar sua presença até 20/12. O acesso a todos os vídeos ficará restrito aos inscritos durante o período previsto para a duração do evento, sendo tornado público a todos a partir do dia 21/12, salvo prorrogação.

As inscrições são gratuitas, e darão acesso à playlist que contemplará todos os vídeos do colóquio. Para inscrever-se, basta preencher este formulário. Os inscritos receberão o link de acesso e todas as instruções para a participação no evento e a conferência de presença no dia 06/12, até as 15 horas. Em caso de dúvidas, o e-mail para contato é nejap@nejap.ufsc.br.

Abaixo das imagens, constam os resumos de cada Comunicação e Minicurso.

Observação: as datas mudaram! É possível inscrever-se até o dia 15/12, e embora a Live de encerramento continue marcada para 17/12, o evento ficará aberto para os inscritos verem os vídeos e obterem certificado até o dia 10/01.

 


 

RESUMOS

 

Comunicações:

 

  • A experiência feminina dekassegui no romance “Sonhos Bloqueados” (1991)

Luana Martina Magalhães Ueno (mestranda em História Social – UEL; pesquisadora do LAPECO e do CEA/UFF)

A década de 1980, conhecida como a “década economicamente perdida”, é marcada por dificuldades geradas pela crise econômica iniciada nos anos de 1970. Nesse decênio ocorreu o baixo dinamismo na economia e aumentou o desemprego. Assim, para alguns sujeitos a única saída de ascender socialmente ou manter-se economicamente seria emigrar para países como os Estados Unidos, Canadá e o Japão. Dentro desses, houve o movimento dekassegui, no qual nipo-brasileiros migraram para o Japão com uma perspectiva de enriquecimento muito parecida dos primeiros imigrantes japoneses (1908). Sendo este, um tema de destaque no livro “Sonhos Bloqueados”, de Laura Honda-Hasegawa, publicado em 1991 e pela Editora Estação Liberdade. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho é analisar a construção da narrativa em torno do fenômeno dekassegui, compreendendo como Honda-Hasegawa expressou os contextos sociais das décadas de 1980 e 1990, destacando o papel da mulher na emigração. Para isso, utilizaremos autores que analisam o fenômeno dekassegui, como: Elisa Massae Sassaki Pinheiro (2000; 2009); Cristiane Yuri Toma (2000); Francisca Bezerra de Souza (2014). Metodologicamente, dialogaremos com autores que discutem a literatura e a história: Antonio Candido de Mello de Souza (2006) e Roger Chartier (2014).

Palavra-chave: Movimento dekassegui; nikkeis; mulheres; “Sonhos Bloqueado”; Laura Honda-Hasegawa.

  • A repolitização das artes cênicas e performáticas contemporâneas no Japão após o evento catastrófico de 3.11

Rafael Mariano Garcia (doutorando no PPG Artes da Cena – UNICAMP)

Após o grande terremoto, seguido de tsunami e acidente nuclear em Fukushima, ocorrido em 11 de março de 2011, conhecido simplesmente como 3.11, o Japão passa a testemunhar uma das mais expressivas mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais desde da Segunda Grande Guerra. Imediatamente, agentes do teatro e da performance atuaram em resposta ao imenso desastre humano na tarefa de explorar maneiras para compreender e dar forma à era pós-Fukushima. Nesse sentido, esta comunicão busca debater três importantes obras artísticas que fizeram parte desse conturbado período: o espetáculo Sayonara”(versão 2011) de Hirata Oriza, o “teatro musical” Jimen to yuka (Chão de piso, 2013) de Okada Toshiki, e a performance “Referendum Project” (2011), de Akira Tarayama.

Palavras-chave: Japão; Arte japonesa; Fukushima; Pós-3.11.

  • Distopias não tão distópicas: o futuro como possibilidade nos audiovisuais animados japoneses das décadas de 1980-1990

Geovana Siqueira Costa (mestranda em História – UFRRJ, pesquisadora do CEA/UFF)

No âmbito do Japão contemporâneo, principalmente nas décadas de 1980-1990, houve a produção de variadas obras audiovisuais animadas a respeito de uma temática em comum: o futuro incerto ou distópico permeado por novas tecnologias (robótica, digital, etc.). Essas animações também foram influenciadas pela ficção científica e pelo movimento conhecido como cyberpunk.

Para Adriana Amaral (2006), o cyberpunk é um subgênero literário da ficção científica estadunidense que surgiu na década de 1980, e que também foi importante para a construção de uma “estética cyberpunk no cinema, influenciada pelo romantismo, pelas histórias de detetive e pelo gênero de horror. O subgênero é uma mistura entre cyber, que diz respeito ao mundo cibernético, e punk, atitude de crítica e contestação da autoridade ou de paradigmas.

No cyberpunk, muitas obras pertencentes ao subgênero apresentam questionamentos sobre os limites e impactos da emergência tecnológica na sociedade, e faz prognósticos críticos, e muito frequentemente pessimistas sobre o futuro. Dessa forma, o cyberpunk se tornou um meio de mostrar a modernização das sociedades de uma forma pessimista, obscura, desoladora e angustiante.

Mas ao contrário das obras estadunidenses, as obras japonesas nem sempre apresentaram uma construção audiovisual e narrativa fechada e pessimista. Tomando como exemplo Ghost In The Shell (1995), é possível perceber como o filme utiliza diversos elementos da estética cyberpunk, mas extrapola o tom decadentista, e vai além em sua reflexão sobre o futuro “distópico” de novas tecnologias. A obra parece colocar em evidência as possibilidades que estas podem oferecer, através da questão da variabilidade.

É certo que, como muitos autores já evidenciaram, há uma influência de um pensamento não-cartesiano, holista e influenciado pela ideia de impermanência durante a construção do pensamento japonês moderno, advindo do shintoísmo, do budismo, das suas artes visuais e da própria cultura popular. Tudo isso faz com que a construção dessas obras seja diferente da “ocidental”, marcada por uma perspectiva de mundo cartesiana, uma religião apocalíptica e principalmente pela ideia de decadência da sociedade. São, por isso, maneiras diferentes de se lidar com a modernização cada vez mais acelerada das sociedades.

Para este trabalho, no entanto, me concentro em como essa diferença pode ser percebida no audiovisual de animação japonês, e por isso a análise de sua forma (técnicas e composições) é fundamental, pois é justamente na incorporação da própria tecnologia da qual se fala na história que podemos ver mais nitidamente como esse pensamento se apresenta. Por exemplo, em Akira (1988), há uma narrativa de questões abertas, futuro incerto e ambíguo, assim como em Serial Experiments Lain (1998), que leva ao limite a ideia de experimentação de técnicas e visualidades, incorporando uma série de inovações na forma de se fazer animação, que em muito reflete as novidades tecnológicas que permeiam a história.

Dessa forma, meu intuito é refletir sobre as “vastas possibilidades”, no âmbito da construção de futuro “distópica” das animações japonesas dos anos 1980-90, e seu diálogo com um mundo em rápida modernização e incorporação de tecnologias.

Palavras-chave: cinema; tecnologias digitais; animação japonesa.

  • Rupturas e continuidades na cultura material e a chegada do budismo ao Japão (Séculos VI e VII)

Larissa Redditt (mestranda em Arqueologia – Museu Nacional da UFRJ, mestranda em Japanese Humanities – University of Kyushu, coordenadora e pesquisadora do GHAJ-LHER)

A afirmação de que os túmulos kofun, que dão nome ao período entre 250 e 710 EC da história japonesa, deixaram de ser construídos por conta da chegada do budismo ao arquipélago já vem sendo descontinuada pelos arqueólogos mas últimas décadas, mas ainda é lugar-comum entre historiadores ao abordar o período, especialmente na escassa bibliografia que chega ao Brasil. Para ter um panorama mais claro do declínio desta prática que esteve no centro da política, cultura e religião da sociedade por tantos séculos, faz-se necessário olhar para fatores e desenvolvimentos internos tanto quanto externos (i.e. chegada do budismo). A presente comunicação buscará traçar este panorama a partir de uma abordagem focada na cultura material funerária, mapeando rupturas e continuidades no registro arqueológico das fases finais do período Kofun (séculos 6 e 7), de forma a demonstrar que o declínio dos monumentos funerários é parte de um processo de mudanças sociais que já vinham ocorrendo de longa data antes da chegada do budismo, tendo sido este apenas uma pequena parte do processo.

Palavras-chave: História do Japão; período Kofun; cultura material.

  • Tajiki Kobayashi: expoente do Movimento Proletário no Japão Entreguerras

Ayumi Anraku (graduada em Letras Japonês – USP) & Ivan L. Lopes (graduado em Letras Japonês USP)

Takiji Kobayashi nasceu no interior da província de Akita, norte do Japão. Sua família tinha uma pequena propriedade, mas eles perderam as terras e, para tentar contornar as dificuldades financeiras, migraram para a província de Hokkaido. Assim, o autor cresceu como aqueles que ele posteriormente viria a tentar defender e instruir através de sua escrita. Expoente do movimento proletário japonês e membro do Partido Comunista, Takiji teve suas obras traduzidas para diversos idiomas, como inglês, alemão, russo, português e chinês.

A literatura proletária no Japão surgiu após a Primeira Guerra, tendo sido impulsionada pelos efeitos da guerra e pelas crises econômicas dos anos 20 e 30, e diretamente conectada ao surgimento e crescimento do Comunismo.

O Partido Comunista Japonês já estava na ilegalidade quando da filiação de Takiji devido à promulgação da Lei de Preservação da Paz de 1925, que justificou o início da perseguição policial, culminando na sua prisão, tortura e morte aos 29 anos de idade.

As obras do autor foram publicadas na Chuōkōron, revista literária na pela qual contos de escritores como Jun’ichirō Tanizaki e Ryūnosuke Akutagawa também eram publicados. Segundo Hori, há somente duas obras de literatura moderna do período pré-guerra que foram traduzidas e publicadas por editoras do exterior, sendo que uma delas é Kanikōsen.

Entretanto, críticos japoneses rejeitaram fortemente as ideologias estrangeiras que chegavam ao Japão naquela época, o que levou a uma recepção negativa das obras de Takiji por parte de autores contemporâneos a ele, como Shiga Naoya. Mesmo na atualidade, a ideologia que suas obras representam acabam por receber comentários parciais de seus críticos, tais como Donald Keene, renomado estudioso de literatura japonesa, que se refere à escrita de Takiji com desprezo, apoiando-se em argumentos tendenciosos.

Por outro lado, a recepção de suas obras pelo público foi positiva, e Kanikōsen é a única obra de literatura proletária que continua sendo reimpressa e lida até os dias de hoje, contando inclusive com uma nova adaptação cinematográfica (Japão, 2012) e uma adaptação em mangá (2006) com 160 mil exemplares vendidos em seis meses.

Diante da importância dessa obra no Japão no período entreguerras e sua repercussão atual, quando questões relacionadas às condições de trabalho são levantadas, em conjunto com o momento de extremismo socioeconômico do Brasil, pretendemos discutir o processo de tradução desta obra, focando nas questões socioculturais que servem de pano de fundo para a obra e a sua aplicação na transposição para o Português. Essa exposição será feita na forma de uma discussão entre os proponentes, que atuam como tradutores de obras dessa época, apresentando a relevância do autor no contexto do movimento proletário japonês, os demais movimentos sociais concomitantes e a relação entre eles, com o objetivo de expor e contrapor os pontos mais importantes encontrados.

Palavras-chave: Literatura japonesa moderna; literatura proletária; movimento proletário; Takiji Kobayashi; adaptações; tradução.

  • Uma visão moderna da revolta de Shimabara-Amakusa: Cristianismo como estratégia

Liana Vasconcellos (graduanda em História – Estácio de Sá) & Alexandre Toman (Docente – CEFET/RJ)

A Revolta de Shimabara-Amakusa (1637-1638) foi o primeiro conflito em larga escala do sistema bakuhan. O Sistema bakuhan era definido pelo balanço político-social entre dois níveis de poder: o bakufu/xogunato controlado pelos Tokugawa, sede da autoridade governativa, e os daimiôs (guerreiros de províncias), que gozavam de grande autonomia no seio dos territórios que administravam. O imperador e a corte imperial foram sujeitos a instruções que regulamentavam seu cotidiano, e direitos anteriormente usufruídos foram tirados. A política centralizadora passou a controlar todas as esferas da sociedade nipônica.

Sabe-se que da segunda metade do século XVI até a primeira metade do século XVII, ocorreu uma oposição entre cristãos e não-cristãos nos territórios onde o Cristianismo tinha se desenvolvido. Era pois interesse do bakufu suprimir essa rivalidade religiosa entre o povo antes que uma guerra civil eclodisse.

Começou no Castelo de Tomioka, uma fortaleza construída perto de Shiki, se estendeu para a ilha de Hondo e então atravessou o mar em direção a península de Shimabara, na Ilha de Kyushu. Tratou se simplesmente de mais uma revolta da classe camponesa, oprimida por altas taxas de impostos? Ou o despotismo senhorial de Matsukura Katsuie (Lorde de Shimabara) e Terazawa Katataka (Lorde de Amakusa) era a principal causa? O grupo de cristãos perseguidos pelo regime do Bakufu teve participação relevante?

A visão moderna dos historiadores é a de que o Cristianismo tenha sido usado como uma estratégia tanto pelos rebeldes como pelo próprio general Matsudaira Nobutsuna, líder da força xogunal designado para combater os revoltosos. Para as autoridades do bakufu o levante foi considerado uma revolta cristã do princípio até o seu final. Mas Nobutsuna sabia bem que durante o desenvolvimento da revolta muitas pessoas foram forçadas a se converterem ao Cristianismo e a se juntarem às forças combatentes.

Se o bakufu fizesse um ataque total ao Castelo de Hara, que foi tomado pelos revoltosos, pessoas inocentes iriam morrer pelas mãos do regime, o que era totalmente contra os princípios dos Tokugawa. A posição oficial era a proteção misericordiosa aos camponeses. Para Nobutsuna seria mais conveniente de que a revolta tivesse o caráter unicamente cristão para que o bakufu não ferisse seus princípios.

Embora o uso do Cristianismo fosse uma estratégia central, o fato é de que entre os rebeldes havia muitos cristãos, assim o Cristianismo, como estratégia, foi uma escolha lógica.

O propósito deste trabalho é apresentar o Cristianismo como estratégia da Revolta e como uma espada de dois gumes; uma ideologia poderosa que poderia servir aos interesses de ambas as partes envolvidas.

O principal referencial foi a tese de Nadja Kreeft Universidade de Leiden, escrita em 2011; Deus Resurrected a fresh look at Christianity in the Shimabara–Amakusa Rebellion of 1637.

Palavras-chave: revolta; cristianismo; Bakufu.

  • Um Corpo de Sol e Aço: Analisando discursivamente a relação entre memória nacional japonesa, crise social e o corpo em Yukio Mishima

Yasmim Pereira Yonekura (doutoranda em Letras Inglês – UFSC)

Partindo da perspectiva teórica da análise do discurso crítica, conforme proposto por Fairclough na obra Critical Discourse Analysis: The Critical Study of Language (1995), essa pesquisa visa analisar como o ensaio poético de Yukio Mishima, Sol e Aço (1968, 2003), articula discursivamente a relação entre memória nacional do Japão, a crise e mudança social após a Segunda Guerra Mundial e a ideia de corpo construída pelo autor. Mishima tem uma obra única na literatura moderna japonesa, onde articula uma idealização do passado nacional e os medos e anseios relativos aos dilemas sociais que o país passou após o ataque a bomba atômica. Apesar de sua narração memorialista venerar a tradição, Mishima era a personificação de várias contradições, como um homem gay numa sociedade tradicionalmente patriarcal e com profundo conhecimento da literatura ocidental, adotando um niilismo quase extremo. Assim como sua obra, a vida de Mishima foi a personificação dessa contradição: viveu buscando exaltar um padrão corporal rígido que era também amplamente venerado nos nichos de práticas homoeróticas da Tóquio do pós-guerra; lia Nietzsche e acreditava num niilismo quase irrefreável, mas usou do Hagakure, texto do século XVIII escrito pelo samurai-sacerdote Jōchō Yamamoto, para cometer o suicídio seppuku nos subúrbios de Tóquio em 1970. Partindo das contradições que o autor traz em sua vida obra, seleciono o texto Sol e Aço para investigar o lugar do corpo e a relação traçada entre a memória nacional e a ruptura social. Mishima seguia uma rígida rotina de treinos e o ensaio foi escrito com o objetivo de contextualizar o culto a forma como uma maneira de restaurar o corpo doente da infância e recuperar a memória nacional, sendo o corpo saudável de Mishima um epítome para a sua nação. Para além do culto à forma, vê-se na narrativa de Mishima uma rememoração da infância e da guerra, que ele relaciona com o seu próprio corpo doente durante os primeiros anos de sua vida. Assim, usando dos recursos da análise do discurso crítica e do contexto histórico vivido pelo autor, essa pesquisa irá investigar e apresentar mais elementos da relação entre corpo e nação, no que tange a rupturas, crises e ideais individuais e coletivos.

Palavras-chave: Corpo; Nação; Identidade Nacional; Análise do Discurso; Mishima.

 

Minicursos:

 

  • As Imagens Fotográficas do Pós-Guerra Japonês de 1950 a 1972: do realismo de Ken Domon ao “Adeus, Fotografia” de Daido Moriyama

Lucas Gibson (mestrando em Artes Visuais – UFRJ)

O presente minicurso tem como objetivo trazer um breve panorama sobre as imagens fotográficas produzidas no Japão no período do pós-guerra, analisando as mudanças de estilo na produção de imagens a partir de 1950, com foco especial nos fotógrafos Ken Domon, idealizador do realismo fotográfico, e Daido Moriyama, até a publicação de seu livro “Shashin yo Sayonara” (Adeus, Fotografia) em 1972. A fotografia produzida no Japão a partir de 1950 se concentrou primordialmente na documentação dos efeitos da Segunda Guerra Mundial para a sociedade japonesa. Os fotógrafos da época se dedicaram a registrar áreas urbanas destruídas, a derrota do povo japonês e a ocupação do território por uma potência estrangeira. O movimento do “realismo fotográfico” do pós-guerra foi encabeçado pelo fotógrafo Ken Domon em 1950, permanecendo um estilo popular durante as décadas de 1960 e 1970, ainda que carregasse alterações de estilo.

E nquanto Domon buscava estabelecer um legado da evidência em imagens que permitiriam uma extração mais objetiva da realidade, fotógrafos como Shomei Tomatsu e Miyako Ishiuchi e coletivos como o VIVO, atuantes a partir de 1954, buscaram um realismo mais subjetivo, caracterizado por uma presença mais intensa de possibilidades interpretativas, produzindo imagens que iriam além do simples enaltecimento ou condenação dos assuntos fotografados.

O estilo do fotógrafo Daido Moriyama (1938- ), por sua vez, se caracterizou por inovações experimentais que se distanciavam da estética do realismo fotográfico de Ken Domon e por outros fotógrafos do pós-guerra, embora grande parte de sua formação tenha advindo do contato com dois de seus mentores, Shomei Tomatsu e Eikoh Hosoe, que representavam uma forma mais subjetiva de captação da realidade. Grande parte de seus experimentos inventivos derivaram da participação na lendária revista Provoke, publicada entre 1968 e 1969, caracterizando uma publicação que buscava romper com os padrões tradicionais do realismo fotográfico. Para Moriyama, a fotografia não deveria buscar a representação de um contexto coerente, mas sim existir por si mesma. O desenvolvimento de um estilo próprio a partir de diversas influências o permitiu perceber a realidade de maneira muito particular, o que o levou a adotar abordagens que integrassem mais a realidade viva e suas diversas camadas.

O término deste minicurso culmina com a análise da publicação “Shashin yo Sayonara”, (Adeus, Fotografia) de Moriyama em 1972, livro que marcou o ápice de seus experimentos fotográficos provocativos. Comumente lembrado como um livro de imagens pouco nítidas, marcadas pela falta de foco, pelo grão intenso, o contraste elevado e os borrões, “Adeus, Fotografia” é uma publicação que também intensificava o debate sobre autoria imagética, por conter imagens apropriadas e que desafiavam a noção de originalidade. Em “Adeus, Fotografia”, o trabalho de Moriyama alcança enfim a condição de incompreensibilidade, exatamente o que o fotógrafo almejava desde o início de sua produção fotográfica.

Palavras-chave: Fotografia; Realismo; Pós-guerra; Ken Domon; Daido Moriyama; Adeus, Fotografia.

  • Nūberu bāgu, da crise do cinema nacional às feridas históricas: representações artísticas de uma sociedade pós-guerra

Vinicius Akiyoshi Aizono (bacharel em História – FFLCH-USP; graduando em licenciatura – USP)

O recorte temporal do cinema novo japonês se inicia no final da década de 50 e perdura até metade da década de 70. Assim como outros movimentos que ocorreram ao redor do mundo em períodos semelhantes como o Cinema Novo brasileiro e a Nouvelle Vague francesa (posteriormente serviu de referência para denominar o movimento japonês), todos procuravam revolucionar não apenas a forma de fazer cinema mas alterar sua estrutura interna, e não vai ser diferente no Japão.

No entanto, as peculiaridades da Nūberu bāgu se dá logo dentro do estúdio. Até então, a estrutura hierárquica interna de um estúdio de cinema era rígida, no qual qualquer aspirante a produtor ou diretor iniciava sua carreira como assistente geral e dedicava anos ou até décadas de carreira ao estúdio na esperança de alcançar o cargo desejado. Até a década de 50, a indústria cinematográfica japonesa vivia sua “era de ouro” com os famosos Jidaigeki (dramas históricos) com nomes proeminentes como Akira Kurosawa que já alcançava os críticos internacionais.

Porém, diferente da base criativa francesa que era composta em grande parte por intelectuais, críticos e cinéfilos, inicialmente os jovens japoneses procuravam apenas procurar ingressar no mercado de trabalho num período de crise econômica e tensão política, essa mesma tensão acumulada vai despertar a vontade de se expressar por meio das câmeras. Estes que ora foram assistentes da “era de ouro” com seu baixo orçamento mas com técnicas inovadoras que quebravam com as técnicas tradicionais, agora tem a oportunidade de criar, na medida que as grandes companhias como Shochiku e Nikkatsu reveem suas políticas e pensam no futuro da tendência cultural que acompanha seu tempo histórico.

Com base nos seguintes filmes e uma análise histórica da crise, a Nūberu bāgu conta com uma gama de diretores que ao longo dos anos tocam nas feridas do Japão pós-guerra. Um dos diretores que mais se destacam no movimento é Nagisa Ōshima com sua longa Noite e Neblina no Japão (日本の夜と霧) que faz uma crítica aos movimentos estudantis da esquerda que atuaram em protestos históricos como a oposição ao Tratado de Cooperação entre Japão e Estados Unidos e a expansão imperialista americana pelo leste asiático.

Seguindo este fio, o diretor Shōhei Imamura trabalha em Todos Porcos (豚と軍艦) com a relação exploratória e as consequências das bases militares americanas instaladas no Japão, criando um ambiente que abre portas para criminalidade, prostituição e a expõe a problematica pobreza que o governo insistia em omitir. Por fim, uma das expressões máximas de uma juventude que cresceu em meio ao caos da reconstrução do país, uma série de crises sociais, econômicas e políticas, o diretor Shūji Terayama dirige a longa Joguem Fora Seus Livros e Saiam às Ruas (書を捨てよ町へ出よう), uma obra experimental de rebeldia que se explica por um roteiro anárquico e sem linearidade. É importante ressaltar que cada longa que será discutido tem estilos característicos de cada diretor, permitindo uma análise do campo artístico sem perder o foco histórico sobre a crise pós-guerra.

Palavras-Chave: Cinema Novo Japonês; Militância Estudantil Japonesa; Japão pós-guerra; Crise cultural.

 

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