Programação do “Terceiro Colóquio NEJAP de Estudos Japoneses – Relações Japão-mundo: Perspectivas Históricas, Culturais e Sociais”
O NEJAP realiza nesta terça-feira, dia 13/11, seu terceiro colóquio, tradição iniciada três anos atrás. Em homenagem aos 110 anos de imigração japonesa ao Brasil, a programação girará em torno dos intercâmbios culturais, sociais, econômicos e políticos que o Japão manteve com o mundo ao longo de sua história, pondo abaixo de uma vez por todas as falaciosas noções de que na história do Japão predominou o isolacionismo, de que o afastamento geográfico para com o continente serviu como obstáculo para contatos, e de que o Japão é culturalmente fechado, avesso a intercâmbios com outros povos.
O evento concederá separadamente certificado de 4 horas para os ouvintes da parte da tarde, e 3 horas para os participantes do minicurso, na parte da manhã.
Segue a programação do evento:
MANHÃ – MINICURSO
MINICURSO: A HISTÓRIA MILITAR DO IMPÉRIO DO JAPÃO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX (09:00 – 11:30)
Ministrante: Hugo Gabriel de Souza Leão Machado (mestrando de Relações Internacionais pela PPGRI-UFSC, e membro do NEJAP)
Resumo: na primeira metade do século XX, o Japão emergiu como uma das maiores potências militares do mundo, conquistando diversos territórios na região Ásia-Pacífico. O principal motor da fase expansionista japonesa foi o processo de reestruturação política que o país atravessou durante a Restauração Meiji (1868). O retorno do Imperador ao poder serviu para unir o país em torno de um objetivo principal: a sua ascensão como importante líder internacional. Desde então, o governo japonês passou a traçar o plano de expansão territorial do país, com o objetivo de formar na Ásia Oriental o Grande Império do Japão, o qual foi intitulado de Esfera de Co-prosperidade do Leste Asiático. A partir da crença do dever nipônico de liderar os povos asiáticos, o Japão deu início a sua expansão territorial. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1917) os japoneses estiveram ao lado de britânicos e americanos, o que garantiu a sua atuação quase que exclusiva na frente oriental. A partir desse conflito, o Japão conquistou importantes territórios, antes ocupados pelos alemães, na parte continental da Ásia. A sua aliança com o ocidente perdurou até meados da década de 1930, quando o governo japonês, percebendo que não contaria com o respaldo norte-americano para suas ações militares, decidiu se retirar da Liga das Nações. Desde então, houve um escalonamento de tensão no Nordeste Asiático, com a ocupação japonesa na Manchúria (1931) e Nanquim (1937), eventos que culminaram na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Esse conflito teve seu término em agosto de 1945, quando duas bombas atômicas, das Forças Armadas norte-americanas, foram lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. A derrota nipônica na guerra implicou no fim do seu plano expansionista na Ásia, uma vez que as Forças Armadas do Japão foram desmanteladas, durante a fase de ocupação militar no seu território (1945-1952). A história militar nipônica, no período acima elencado, é bastante interessante para a compreensão da política de defesa do país durante a Guerra Fria e atualmente. A imagem do Japão pacifista foi construída durante a Guerra Fria, a partir da adoção de uma agenda de política externa voltada a diplomacia multilateral voltada, principalmente, para assuntos econômicos.
Palavras-chave: Japão; Expansionismo; História da Guerra
TARDE – COMUNICAÇÕES ORAIS
O ZENRIN KOKUHŌKI DE ZUIKEI SHŪHŌ E AS RELAÇÕES DO JAPÃO COM O CONTINENTE ASIÁTICO ENTRE OS SÉCULOS XI-XV: COMÉRCIO, RELIGIÃO E DIPLOMACIA (14:00 – 14:40)
Comunicador: Kauê Otávio (graduando em História pela UFSC, e membro do NEJAP)
Resumo: a obra Zenrin Kokuhōki, escrita em 1470 pelo monge Zuikei Shūhō, foi uma das primeiras tentativas de se escrever uma história das relações internacionais do Japão, e seu objetivo era servir de guia para a condução das boas relações com os vizinhos asiáticos, sobretudo a China Ming. A presente pesquisa, em estágio preliminar, pretende apresentar um pouco desta curiosa obra, ao mesmo tempo que sumariza os pontos centrais de cinco séculos de relações internacionais do Japão, dos séculos XI ao XV, em seus principais eixos: o econômico, o religioso, e o político.
Palavras-chave: Japão Medieval; Relações Japão-China; Relações Internacionais do Japão; Budismo; Comércio Marítimo Asiático
SAKOKU: SUAS ORIGENS, SUAS INTERAÇÕES E SEU FIM (14:40 – 15:20)
Comunicador: Márcio Cardoso Lisboa Junior (bacharel em Direito pela UNIVALI, graduando em História pela UFSC, e membro do NEJAP)
Resumo: o Japão século XVII foi marcado por uma política chamada Sakoku: o fechamento total de suas fronteiras para estrangeiros e a proibição de saída para seus cidadãos. Ou pelo menos, esta é a versão “oficial”. Esta apresentação tem como objetivo mostrar o Sakoku sob outra ótica: Como um processo/projeto histórico e com uma flexibilidade muito maior do que a imaginada pelo senso comum.
Palavras-chave: Sakoku; Japão; Isolacionismo; Reabertura
IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL E EM SANTA CATARINA: PEQUENO HISTÓRICO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA AO BRASIL E SUA CONTRIBUIÇÃO À ECONOMIA CATARINENSE (15:20 – 16:00)
Comunicador: Iochihiko Kaneoya (bacharel em Direito pela USP, pesquisador independente de cultura japonesa e coordenador do Nipocultura)
Resumo: no ano em que se comemora os 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil, este estudo pretende apresentar um panorama geral de como se deu o processo de imigração dos japoneses ao território brasileiro, incluindo ao estado de Santa Catarina, e analisar sua contribuição na economia local.
Palavra-chave: Imigração Japonesa no Brasil; Imigração Japonesa em Santa Catarina; Aniversário de 110 anos da Imigração Japonesa
16:00 – 16:20 – Intervalo
DO PERIGO AMARELO À MINORIA MODELO: IDENTIDADE NIKKEI, RELAÇÕES RACIAIS BRASILEIRAS E CONTEMPORANEIDADE (16:20 – 17:00)
Comunicadora: Gabriela Akemi Shimabuko (graduanda em Ciências Sociais pela Unesp/FCLAr)
Resumo: no Brasil, onde existe a maior população “japonesa” fora do Japão, prevalece a ideia dessa demografia enquanto estrangeira, sustentada pela construção de uma brasilidade homogênea e excludente. Articulando conceitos de cidadania, pertencimento e assimilação dentro do panorama histórico da formação do Estado-nação brasileiro e no cenário internacional, pretendo explorar o papel ambíguo de nikkeis nas relações raciais brasileiras e as constantes negociações identitárias que permitem a instrumentalização de “japoneses” por discursos fascistas, tanto presentes quanto do passado. O fenômeno – histórica e politicamente construído – da “mobilidade racial” nipo-brasileira aprofunda a questão dos processos de racialização no Brasil e na América Latina, exigindo uma discussão que abarque não somente o “outro”, mas que questione também a branquitude e a própria de “Ocidente”.
Palavras-chave: Relações Raciais; Identidade Nikkei; Minoria Modelo; Perigo Amarelo
DO PACIFISMO DA CONSTITUIÇÃO DE 1947 AO MILITARISMO NOS GOVERNOS KOIZUMI (2001-2006) E ABE (2006-2007): A REDEFINIÇÃO DA POLÍTICA DE DEFESA DO JAPÃO NO SÉCULO XXI (17:00 – 17:40)
Comunicador: Hugo Gabriel de Souza Leão Machado (mestrando de Relações Internacionais pela PPGRI-UFSC, e membro do NEJAP)
Resumo: em maio de 1947, entrou em vigor uma nova Constituição do Japão, conhecida por seu caráter pacifista, ela foi responsável por extinguir as Forças Armadas do país e, assim, dar início a uma nova fase na Política Externa japonesa. Durante os anos da Guerra Fria, o governo nipônico perseguiu uma agenda política centrada em questões de âmbito econômico, fruto do pacote de diretrizes conhecido como Doutrina Yoshida, que incluía também a nãointervenção em conflitos externos. Naquele momento, o principal pilar da Política de Defesa do Japão era a aliança militar formada com o governo estadunidense, em 1952, que garantia a proteção do território nipônico contra eventuais ataques. Após o fim do conflito, no início dos anos 1990, os debates sobre a possibilidade de renovação da agenda de defesa do Japão emergiram, principalmente, devido às pressões para que o país tivesse uma atuação políticomilitar condizente aos seus status de potência econômica. No século XXI, os governos de Junichiro Koizumi (2001-2006) e Shinzo Abe (2006-2007), ambos pertencentes ao Partido Liberal Democrata do Japão (PLD), foram responsáveis por uma redefinição da Política de Defesa japonesa, sob a justificativa de readequar o país ao novo ambiente de segurança nas esferas regional e internacional. Entretanto, fatores de ordem doméstica, como: o crescimento do nacionalismo e a ascensão do militarismo na agenda política do PLD surgem como prováveis hipóteses a redefinição da agenda política japonesa contemporânea. Partindo da análise de hipóteses de ordem sistêmica e doméstica, o objetivo desse trabalho é investigar as razões para a mudança de caráter da política japonesa, saindo do pacifismo da sua Constituição ao crescimento do militarismo no presente século. Para tanto, duas abordagens teóricas de Relações Internacionais servirão como lentes de análise para o objeto de estudo proposto, são elas: o Realismo Pós-Clássico e o Realismo Neoclássico.
Palavras-chave: Japão; Política de Defesa; Militarismo